domingo, 27 de março de 2011

Ontem chorei.



Por tudo que fomos.
 Por tudo o que não conseguimos ser. 
Por tudo que se perdeu. 
Por termos nos perdido.
 Pelo que queríamos que fosse e não foi. 
Pela renúncia. Por valores não dados.
 Por erros cometidos. Acertos não comemorados. 
Palavras dissipadas. Versos brancos
. Chorei pela guerra cotidiana.
 Pelas tentativas de sobrevivência.
 Pelos apelos de paz não atendidos.
 Pelo amor derramado. 
Pelo amor ofendido e aprisionado. 
Pelo amor perdido.
 Pelo respeito empoeirado em cima da estante. 
Pelo carinho esquecido junto das cartas envelhecidas no guarda-roupa.
 Pelos sonhos desafinados, estremecidos e adiados. 
Pela culpa. Toda a culpa. Minha. Sua. Nossa culpa. 
Por tudo que foi e voou. 
E não volta mais, pois que hoje é já outro dia.
 Chorei. Apronto agora os meus pés na estrada. 
Ponho-me a caminhar sob sol e vento. - Caio Fernado Abreu

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